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Dicas de utilização, improvisação e adaptação.

Você já deve ter lido aqui no Aventuraria o Manual dos Bagageiros para Bicicleta – se não leu, clique aqui – e ganhou confiança para escolher um bom bagageiro para a sua expedição. Aliás, talvez não seja somente um bagageiro, mas dois. Você descobriu que, além do bagageiro traseiro, você também irá precisar de um adicional para dianteira da sua bici. Tudo pronto, ou quase. Entramos para a segunda parte desta jornada maluca de tentar encontrar a melhor combinação de equipamentos para fazer uma cicloviagem tranquila. Desta vez vamos tocar num assunto que também deixa muitos ciclistas confusos quando decidem pegar a estrada pela primeira vez. Apresentamos aqui o Manual dos Alforjes para BicicletaDividimos este Manual em 4 tópicos importantes.

1. MATERIAIS
Tecidos e zíperes utilizados na confecção de alforjes.

2. CAPACIDADE VOLUMÉTRICA
Como é calculado o volume de um alforje ou mochila.

3. SISTEMAS DE ENCAIXE
Como os alforjes são fixados nos bagageiros e quais os modelos disponíveis no mercado.

4. 
ESCOLHENDO O ALFORJE CORRETO PARA SUA EXPEDIÇÃO
Algumas dicas para te ajudar a encontrar uma boa combinação de equipamentos para sua cicloviagem.

Pois bem, chega de apresentações e vamos ao que interessa.


1. MATERIAIS

1.1 – TECIDOS

Quando vamos comprar um alforje pela primeira vez é muito possível que tenhamos dúvidas em relação ao tecido usado na sua fabricação. Talvez não seja uma dúvida técnica, pode ser algo mais genérico relacionado a sua capacidade de ser impermeável ou não. As variações de modelos e a quantidade de marcas disponíveis no mercado são bastante, porém os tecidos usados na confecção de alforjes são bem restritos. De forma genérica e ampla podemos dizer que todos os alforjes para bicicleta são construídos a partir de tecidos de nylon ou os chamados vinil (lona). Claro que temos algumas exceções como alforjes feitos em poliéster ou jeans, mas são raros e portanto só vale a pena mencioná-los a propósito de curiosidade. Quando falamos em nylon nós estamos nos referindo a malha base da confecção de todos alforjes, até mesmo os modelos em vinil. Neste grupo incluímos também uma das marcas mais famosas que temos no mundo têxtil, a Cordura®. O que vamos entender um pouco melhor durante a leitura deste manual é que existem semelhanças entre todos estes tecidos, inclusive eles podem ser combinados entre si. Vamos ver então como isso funciona na prática.

1.2 – NYLON

O nylon, segundo o dicionário,  é um  nome genérico para a família das poliamidas. Foi a primeira fibra têxtil sintética produzida pelo homem. Desde então tem sido largamente aplicada na indústria de tecidos, sendo base para a construção dos mais diversos tipos de equipamentos como mochilas, bolsas, malas, vestuário, calçados e até para-quedas. Em alforjes, o nylon comum é facilmente encontrado em produtos provenientes da China, ou em equipamentos produzidos por empresas que buscam reduzir seus custos. Entende-se por nylon comum todas poliamidas simples que não possuem direitos reservados como acontece com o nylon 6.6, que é patente da empresa DuPont e tem seu uso e marca registrada por acordo com outra empresa têxtil chamada Invista. Neste caso o nylon 6.6 e seus tecidos passam a receber o nome de Cordura®. É sobre ele que vamos falar um pouquinho agora.

1.3 – CORDURA®

Selo de Identificação Cordura®

Se você é daquele perfil de aventureiro fuçado que gosta de investigar os detalhes técnicos de um equipamento antes de comprá-lo, provavelmente você já deve ter ouvido falar nos chamados tecidos Cordura®. Este tecido é famoso e não é à toa. Registrado pela empresa DuPont por volta da década de 30, a marca Cordura® inicialmente se referia a um tecido criado a partir de uma seda artificial conhecida por raiom. Anos mais tarde e depois de ter sido utilizada pelo exército americano durante Segunda Guerra Mundial no processo de construção de pneus para seus veículos, a DuPont transferiu a marca Cordura® para os seus tecidos fabricados em nylon. Hoje, com o avanço da tecnologia e com o compartilhamento de seus direitos com a empresa Invista, a marca Cordura® foi transferida novamente, desta vez vinculada ao nylon 6.6. O nylon 6.6 produzido Invista tem altos índices de ligações de hidrogênio, ponto de fusão e taxas de cristalização. Estas propriedades químicas atribuem ao tecido Cordura® características únicas como forte resistência a abrasão, desgaste natural e calor. Hoje os tecidos Cordura® possuem uma variação extensa de modelos com aplicações nos mais diversos setores da indústria, indo de airbag para carros a barracas de acampamento.  Diante das incertezas de procedência dos tecidos feitos em nylon comum e sabendo do envolvimento em pesquisas e tradição histórica da empresa Invista, vale a pena optar por equipamentos que utilizam o Cordura® em suas confecções. Abaixo segue um teste de abrasões feito pelo método Wyzembeek comparando alguns tecidos com o Cordura®.

Teste abrasivo realizado pela fricção cíclica de lixa de papel sobre o tecido. Fonte: blackbeardutygear.com

1.4 – VINIL (LONA)

Processo de Laminação do Tecido Nylon

O vinil – apelido para policloreto de vinila (PVC) –  não é utilizado na confecção de alforjes na forma de fios como acontece com o nylon, portanto, ele entra naquela combinação de materiais que citamos para se formar um novo tecido. Visualmente ele é bem simples de ser identificado por conta da sua espessura e aparência plástica destacante. Os tecidos em lona, como nós conhecemos e podemos encontrar em alforjes de marcas famosas como Saikoski, Thule e Ortlieb, são produzidos a partir da aplicação de camadas de PVC ou PU (Poliuretano) sobre tecidos de nylon (também pode ser aplicado em poliéster ou algodão). Este processo é conhecido por laminação e se resume na aplicação de camadas de PVC ou PU internamente e externamente ao tecido base. A técnica é essencial para a impermeabilização de um tecido. Malhas em nylon ou poliéster em sua forma natural não são capazes impedir que líquidos atravessem suas paredes, mesmo sendo elementos sintéticos. Se olharmos um tecido em nylon bem de perto ou com auxílio de uma lupa vamos ver que ele é formado por milhares de poros. É por esses buraquinhos que a água atravessa a malha. O PVC entra nessa jogada justamente para fechar esses poros. Agora que você sabe que a lona é criada através de um processo de laminação sobre um tecido base, fica claro entender que é possível termos lonas construídas em Cordura®, embora não seja algo de extrema significância neste caso, já que o Cordura® vai ficar escondidinho neste sanduíche de PVC.  Antes de seguir para o próximo capítulo (capacidade volumétrica), ainda precisamos falar sobre aquele detalhezinho que está presente em quase todas as descrições técnicas de mochilas, barracas, bolsas, alforjes e etc; a bendita letrinha “D” que acompanha as informações sobre um tecido.

1.5 – LETRA “D”

Você está olhando as descrições de um alforje ou uma bolsa de guidão quando de repente se depara com a seguinte informação: fabricado em tecido Cordura® 1000D. Que cargas d’água seria esta numeração? E qual é o significado da letra “D” no final?
Esta é fácil, mas podemos complicar, o que definitivamente não iremos fazer. A letra D que acompanha os números em tecidos vem da palavra em inglês denier e não tem nenhuma relação com moeda medieval francesa criada durante o reinado de Carlos Magno. Denier é uma unidade de medida criada pela indústria têxtil que expressa o peso em gramas de um fio, cujo comprimento linear é de 9000 mil metros. Porém, na prática, a única coisa que você precisa saber é que quanto maior for o número que acompanha a letra D mais resistente e pesado será um tecido. Só isso, nada mais. Agora você já pode pegar a sua bici e sair por aí viajando. Só não se esqueça de explicar para os seus amigos o que é também a tecnologia Rip Stop. Não falamos sobre isso? Então vamos lá rapidinho.

1.6 – RIP STOP

Tecido Antirrasgo (Ripstop)

É uma técnica de tecelagem conhecida também por antirrasgo. É bem fácil de identificá-la e pode ser feita ao olho nu mesmo. Sabe aquelas mochilas que você olha e parece que o tecido é formado por milhares de desenhos idênticos em formas de diamantes ou quadradinhos? Então, este seria um tecido antirrasgo. O funcionamento da técnica também é simples. Se você faz um furo dentro de um desses quadradinhos ele não se propagará. Isso acontece porque ele está cercado por costuras geométricas. Se acidentalmente um furo extrapola um destes cercados, inevitavelmente, ele será bloqueado pelo cercado vizinho. Esta é uma técnica bastante eficiente e tem sido aplicada largamente na indústria de bolsas e vestuário. Ufa, agora acabou. Acho que falamos o que tinha que ser dito sobre tecidos. Vamos entender agora um pouco mais sobre a capacidade volumétrica de um alforje, mochila ou qualquer outro tipo de bagagem. Ah, mentira, não acabou ainda não. Faltou darmos uma passadinha ligeira no assunto zíperes YKK®.

1.7 – ZÍPERES YKK®

Zíper YKK®

Você já deve ter ouvido falar sobre este tal de zíper YKK na descrição de algum alforje ou mochila. YKK® é marca registrada do grupo japonês de mesmo nome (YKK), considerado o maior fabricante de zíperes do mundo. A empresa é tradicionalíssima e foi fundada a mais de 70 anos. A qualidade de seus zíperes é expressivamente visível, principalmente, diante das toneladas de zíperes ching-lings que existem por aí. Portanto, se for adquirir um alforje ou mochila dê preferência às marcas que utilizam zíperes YKK® em suas confecções. É um item de custo baixo que faz muita diferença.


2. CAPACIDADE VOLUMÉTRICA

Falando em capacidade volumétrica nós encontramos também uma porção de dúvidas. A primeira e mais comum está relacionada a escolha correta do volume de um alforje para uma expedição. Na sequência vem o questionamento da real capacidade volumétrica atribuída por cada fabricante de alforje. Ambas as dúvidas são bastante pertinentes e merecem uma atenção especial.

2.1 – Como calcular o volume de um alforje?

Este cálculo é bastante simples de se fazer, embora não seja o mais preciso por conta da geometria de um alforje. Utilizando a escala em centímetros como referência, deve-se multiplicar o comprimento de um alforje por sua largura e altura. O resultado será apresentado em centímetros cúbicos (cm³). Para descobrir a litragem final é só dividirmos o número resultante da multiplicação das dimensões do alforje por 1000.

FÓRMULA
Litragem do alforje = (comprimento x largura x altura cm) / 1000

EXEMPLO
Alforje XY
Comprimento:  30cm
Largura: 20cm
Altura: 40cm
Litragem = (30cm x 20cm x 40cm) / 1000 = 24000cm³ / 1000 = 24 litros

2.2 –  Por quê as minhas medidas da dimensão de um alforje não condizem com a fornecida pelo fabricante?

Esta é uma boa pergunta e também simples de responder. Vários são os fatores que podem nos levar a obter medidas diferentes de alforje. A precisão da fita métrica utilizada, os pontos de referência, curvas de canto e preenchimento são alguns dos parâmetros que podem nos dar medidas diferentes para um mesmo equipamento. Os bons fabricantes de alforjes utilizam uma das técnicas que talvez seja a mais eficiente de todas; o enchimento por água. A água, no seu estado líquido, é capaz de preencher todas as áreas internas de um alforje. Feito isso, basta calcular quantos litros foram utilizados no experimento. Esta técnica talvez seja uma das mais utilizadas entre os fabricantes. No Brasil sabemos que as marcas Arara Una e Alpamayo fazem os seus cálculos desta maneira.


3. SISTEMAS DE ENCAIXES

O que você precisa saber sobre os sistemas de fixação é que, praticamente, existem apenas duas maneiras de se encaixar alforjes sobre bagageiros. Fixação por engate rápido ou fixação por sobreposição.

3.1 – Fixação por Engate Rápido

Fixação por Engate Rápido – Thule

Encontrado em uma boa parte dos alforjes existentes no mercado este sistema permite que os alforjes sejam fixados e retirados do bagageiro com muita facilidade e que também sejam utilizados individualmente. Os grandes fabricantes de alforjes no mundo costumam ter seus próprios sistemas de fixação. Praticamente todas as marcas utilizam peças plásticas de alta densidade com exceção da marca brasileira Saikoski, que usa uma combinação ultrarresistente de aço e fitas de nylon.  Sobre a compatibilidade com bagageiros podemos dizer que os sistemas de engate rápido são compatíveis com todos os modelos de bagageiro de marcas conceituadas no mercado. Para os demais bagageiros a dica é ficar de olho no diâmetro externo dos tubos utilizados na sua fabricação. Se os tubos tiverem o diâmetro externo entre 8mm a 10mm, certamente o sistema será compatível. Para tubos com diâmetro muito acima do padrão de 10mm não há muito o que fazer, mas se o diâmetro for, significativamente menor, você tem a opção de criar uma luva ao redor do tubo para aumentar suas dimensões. Há milhões de maneira de se fazer isso e uma delas seria enrolar fitas de borracha (câmara de ar usada) ao redor da estrutura do bagageiro e fazer o acabamento final com fita adesiva do tipo Silver Tape.

VANTAGENS: Fixação rápida no bagageiro e possibilidade de utilizar os alforjes individualmente (útil para uso urbano)
DESVANTAGENS: O plástico está suscetível ao processo de ressecamento ao longo do tempo, o que pode resultar em sua quebra. O processo de substituição dessas peças não costuma ser barato se estiver fora da garantia e pode ser demorado de acordo com a região que você estiver viajando. Poucas possibilidades de adaptação.
* O alforje de 32L da marca Arara Una pode ser utilizado individualmente mesmo não sendo do tipo engate rápido.
** Alforjes feito em Vinil não são transpiráveis, o que pode gerar a condensação de água em seu interior.

3.2 – Fixação por Sobreposição

Fixação por Sobreposição – Alto Estilo

Este é um dos sistemas de fixação de alforjes mais antigos e sua possível origem vem do transporte de carga sobre animais. Foi por muito tempo utilizado no Brasil por tropeiros e ainda hoje é comum encontrar estes alforjes em áreas rurais. O sistema em si, ao ser levado para bicicleta, não sofreu muitas modificações, apenas as bolsas e dimensões foram alteradas para se adequar a nova modalidade. É um sistema confiável, ultrarresistente (principalmente quando feito em tecido Cordura®), prático e de fácil manutenção. O funcionamento é simples; duas bolsas unidas na parte superior por uma fita larga que será acomodada sobre o bagageiro.

VANTAGENS: Resistente em qualquer tipo de terreno; reparos podem ser feitos por você mesmo com o auxilio de uma agulha, linha e tecido; custo reduzido do equipamento por não depender de usinagens ou ter patentes vinculadas.
DESVANTAGENS: Alforjes não podem ser utilizados separadamente (exceção do modelo 32L – Arara Una).


4. ESCOLHENDO O ALFORJE CORRETO PARA SUA EXPEDIÇÃO

Vamos agora descobrir como transformar as informações técnicas apresentadas anteriormente em conteúdo prático. 

4.1 – Alforje impermeável ou não?

Saco Estanque – Sea To Summit

Se o alforje não for impermeável, não se preocupe, existem muitas soluções práticas (profissionais ou improvisadas) para evitar que suas coisas fiquem molhadas em dias de chuva. Um alforje 100% impermeável tem o benefício de já vir pronto para não se molhar, porém isso não significa que um alforje em tecido transpirável seja ineficiente nesse quesito. Uma das soluções para se blindar um alforje e evitar que se molhe por dentro seria a utilização dos chamados sacos estanque . Saco estanque, caso você ainda não tenha ouvido falar, é um saco hermético feito em tecido impermeabilizado ou plástico que não permite a passagem de água para o seu interior. Você tem a opção de adquirir um saco estanque próprio de marcas renomadas como Sea to Summit ou improvisar um, caso seu orçamento esteja bem apertado. NADA DE UTILIZAR SACOS DE LIXO. Uma das melhores opções para se estancar objetos dentro de alforjes é utilizando sacos de ração para cachorro. Sim, é isso mesmo. Sacos de ração são feitos em plástico resistente, diferente do saco de lixo que se rasga com muita facilidade.

Portanto, ser ou não um alforje impermeável não deve ser um fator limitante. O que temos como informação universal é que geralmente alforjes impermeáveis possuem um custo mais elevado. Outra característica comum destes alforjes é que eles não costumam vir com bolsos externos, o que para algumas pessoas é um complemento bastante útil. MUITA ATENÇÃO ao comprar alforjes importados que se dizem ser WATERPROOF, principalmente, objetos vindo da China. À PROVA D’ÁGUA  é muito diferente de ser RESISTENTE A ÁGUA e talvez muitos fabricantes e lojistas se deixam enganar – propositalmente ou não – pelo conceito da palavra inglesa. Lembre-se que, para se obter um alforje 100% impermeável deve-se aplicar um tratamento de PVC ou PU sobre seu tecido e suas costuras necessitam estar seladas (ex. barracas). A Arara Una, um dos maiores fabricantes de alforjes para bicicleta no Brasil, tem um modelo de alforje impermeável feito em Cordura® que segue esta lógica do saco estanque. Além do tecido utilizado na confecção de seus alforjes possuírem um tratamento de PVC para repelir a água, este modelo específico da Arara Una já possui um saco estanque instalado dentro dele. Deste modo a escolha de um alforje deve se resumir a sua capacidade volumétrica, custoapreço estético e acesso a manutenção e garantia.

Uma última observação em relação a impermeabilidade dos alforjes se dá ao uso de capas de chuva. Capas de chuva para alforjes são eficientes para segurar chuvas moderadas e proteger seu equipamento da lama, mas NÃO SÃO CAPAZES de segurar chuvas mais tempestuosas. Não que a água irá transpor a capa, mas ela poderá entrar por áreas não protegidas do alforje como o seu encostado. Use a capa de chuva como complemento a um saco estanque.

4.2 – Qual a necessidade de se utilizar alforjes na dianteira da bicicleta e existe algum modelo próprio para isso?

Alforjes dianteiros são muito bem vindos, principalmente, em cicloviagens de longa duração. É nos alforjes da frente que nós, geralmente, estocamos as comidas, equipamentos de cozinha, temperos, material de limpeza e outras coisinhas úteis do dia a dia. O seu uso se faz necessário quando percebemos que a parte traseira da bicicleta está alcançando o seu limite máximo de peso, tanto em relação aos alforjes quanto ao bagageiro. O excesso de peso na traseira da bicicleta pode ser bem problemático em inúmeros fatores. A começar pelo aumento da força aplicada sobre a roda traseira da bicicleta, que pode aumentar as chances de se furar um pneu como também danificar os raios e até mesmo o aro. Além disso, o excesso de carga sobre um bagageiro pode levar a sua ruptura ou alterar o equilíbrio da bicicleta. Outra coisa é a aderência da roda dianteira. Muito peso atrás pode criar uma tendência de se empinar a bicicleta. Isso é muito ruim para subidas e perigoso em curvas. Então a regra é simples. Está achando que a traseira da sua bicicleta está ficando muito pesada? Opte por instalar um bagageiro e alforje na dianteira.

Em relação aos modelos de alforjes frontais para bicicleta, no geral não existe algo específico. O que se percebe com bastante clareza é que os alforjes de dianteira tem sempre uma capacidade volumétrica menor (algo menor ou próximo a 30 litros), e isso é proposital. Primeiro porque o excesso de peso frontal altera significativamente a dirigibilidade da bicicleta, e outra é que não há a necessidade de tanto espaço assim para uma cicloviagem. Uma regrinha genérica e bastante útil é aquela que define a proporção de cargas distribuídas entre os alforjes traseiros e dianteiros da bicicleta. A média seria colocar 60% do peso total na traseira e 40% na dianteira. Este é um bom começo, os ajustes finos nós vamos fazendo durante a viagem.

4.3 – Qual o tamanho do alforje que devo levar na minha viagem?

Diante de tantas variações disponíveis no mercado encontrar o modelo certo de alforje para sua cicloviagem pode se tornar uma tarefa um pouco estressante. São vários os fatores que devem ser levados em consideração nesta pesquisa e não há ninguém melhor para defini-los do que você mesmo. Inclui-se nesta lista de parâmetros informações como clima, duração de viagem, perfil da expedição (autossustentável ou assistida) e a maneira como você monta suas bagagens de viagem. Para facilitar um pouquinho a nossa vida, elaboramos um pequeno guia ilustrativo para te auxiliar a montar a sua própria configuração de alforjes.

***** Este roteiro foi baseado na montagem de alforjes por pessoas que procuram não transportar muitas coisas em viagens, mas não são radicalmente minimalistas e nem exageradas. Se você for do tipo minimalista, considere a menor das medidas fornecidas na tabela acima. Se for do perfil exagerado, opte pelas maiores medidas.

DICA DE COMPRA

Se você está fazendo uma cicloviagem de curta duração pela primeira vez e tem a intenção de se hospedar em pousadas, comer em restaurantes e ainda não tem certeza se fará outras expedições (difícil não fazer), uma boa opção seria investir em um alforje com capacidade em torno de 30L. Se futuramente você decidir fazer expedições longas e com muita bagagem este alforje pode ser transferido para a dianteira da bicicleta e só então você investe num alforje de capacidade maior para ser utilizado no bagageiro traseiro.

4.4 – Quais são as melhores marcas de alforjes encontradas no Brasil?

O cicloturismo ainda está tomando o seu lugar no Brasil, mas os fabricantes de alforjes e marcas internacionais já estão por aqui faz um bom tempo. O interessante é ver que, embora ainda não tenhamos uma tradição nesta modalidade, o mercado nacional de fabricação de alforjes é bem significativo. Hoje temos por aqui (Julho/2017) ao menos 7 fabricantes  de alforjes para cicloturismo (Alpamayo | Alto Estilo | Arara Una | Aresta | Curtlo | Saikoski | Northpak), sendo a Saikoski pioneira na produção de alforjes impermeáveis no Brasil. Além das marcas nacionais nós temos também outras 4 grandes marcas internacionais (Thule | Ortlieb | Deuter | Topeak). Todas elas, sejam brasileiras ou de origem estrangeira fabricam alforjes de altíssimo nível técnico e durabilidade. Todas as marcas nacionais utilizam Cordura® em seus alforjes e zíperes YKK®.

ALFORJES URBANOS

Neste manual estamos focando nos alforjes próprios para cicloturismo, mas não podemos deixar de citar outros dois grandes fabricantes brasileiros de alforjes do tipo urbano; Alforjaria e Movere.


ATENÇÃO
Tome muito cuidado ao comprar alforjes provenientes da China. Apesar de ter um custo bastante chamativo, a grande maioria dos alforjes fabricados por lá utilizam material de baixa qualidade, incluindo seus tecidos e zíperes. A nossa recomendação é que nunca se compre um alforje da China para fazer uma expedição de longa duração. O problema mais comum encontrado nestes alforjes é o desfiamento de seus tecidos no decorrer da viagem. Alforjes de marcas confiáveis não são caros se considerarmos que são produtos para durar uma vida toda.


Onde posso comprar alforjes e equipamentos para cicloturismo no Brasil?

Um ótimo lugar para se comprar alforjes e equipamentos especializados em cicloturismo é sem dúvidas a loja virtual,  Aventuraria.


julho 19, 2017 18 comentários
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Planejar uma expedição de bicicleta é uma tarefa que pode dar um pouco de trabalho, principalmente, se você é um marinheiro de primeira viagem. As dúvidas costumam serem tantas e surgem tão rapidamente que algumas pessoas acabam sendo levadas pelo medo e passam a acreditar que não são capazes de seguir adiante, o que não é verdade. Viajar de bicicleta não requer que você seja um atleta, que tenha equipamentos de última geração ou que seja um especialista em sobrevivência na selva. Cicloturismo é uma atividade para todos, movida, acima de tudo, pela vontade genuína de querer viajar.

Para quem pretende fazer uma cicloviagem transportando bagagens, deve-se ficar atento a necessidade de se utilizar bagageiros e alforjes na bicicleta. Se sua viagem for simples do tipo que uma troca de roupas e algumas ferramentas básicas sejam suficientes,  talvez uma boa mochila de costas resolva o problema. Porém, se a jornada for longa ou se você estiver carregando muitos equipamentos, aí não há muito o que fazer. Das dúvidas que vão surgindo, talvez a mais frequente e comum esteja relacionada a escolha de um bagageiro.

Esta não é uma tarefa que costuma ser fácil, mas existem alguns conceitos que pode torná-la muito mais simples e agradável. Pensando em ajudar todos aqueles que ainda se encontram perdidos ou que simplesmente buscam dicas para melhorar os equipamentos que já possuem, criamos o Manual dos Bagageiros para Bicicleta, que traz informações relevantes como modelos disponíveis no mercado, compatibilidade com bicicletas, resistência mecânica, durabilidade, improvisação e dicas para tornar seu bagageiro mais seguro e eficiente. Então vamos ao que interessa!


FIXAÇÃO

QUALQUER BAGAGEIRO VAI SERVIR EM QUALQUER BICICLETA?

Ao menos que você seja daquele perfil de pessoas que gostam de criar coisas, a resposta para esta pergunta infelizmente é não. Se a sua ideia é adquirir um bagageiro que seja totalmente compatível com sua bicicleta sem que você precise criar adaptações, é importante que você entenda quais são as características limitantes de cada modelo. A primeira, e talvez a mais importante, seria o seu modo de fixação. Nem todo quadro de bicicleta possui furações apropriadas para bagageiro. Quando encontramos um quadro assim há dois caminhos a se seguir. Optar por um bagageiro chamado universal, que teoricamente é compatível com qualquer modelo de bicicleta ou criar adaptações para tornar o seu quadro compatível com bagageiros específicos.

BAGAGEIROS UNIVERSAIS

São aqueles que teoricamente funcionam em qualquer tipo de bicicleta. Não dependem de furações no quadro e são compatíveis com qualquer tamanho de roda e sistemas de freio. Geralmente são fixados por abraçadeiras no quadro ou no eixo traseiro da roda. Estes bagageiros costumam ter um custo mais elevado. Um exemplo seria o modelo universal Pack n’ Pedal Tour da empresa sueca, Thule, que além de ser compatível com quadros full suspension, pode ser utilizado na dianteiro da bicicleta.

Existem também alguns modelos que poderiam ser classificados de semi-universais. São bagageiros compatíveis com uma escala limitada de tamanhos de roda (geralmente as mais comuns do mercado), mas aceitam todos os tipos de freios. Aqui citamos como exemplo o bagageiro traseiro Raider Universal da empresa francesa, Zéfal, fabricados para bicicletas com rodas de 26″ a 29″.

Ainda dentro da categoria de bagageiros universais podemos incluir os chamados bagageiros de canote de selim. Estes bagageiros como o próprio nome diz são fixados no canote de selim da bicicleta. São mais indicados para uso na cidade ou cicloviagens mais curtas onde não há a necessidade de carregar muita bagagem. Estes bagageiros possuem uma capacidade menor de carga se comparados aos modelos tradicionais. No geral esta capacidade gira em torno 9Kg enquanto os modelos tradicionais suportam em média 20Kg.  Um exemplo de bagageiro de canote de selim seria o Ostand CD28.

A - BAGAGEIRO UNIVERSAL PACK 'N PEDAL THULE ---- B - BAGAGEIRO SEMI-UNIVERSAL RAIDER ZÉFAL ---- C - BAGAGEIRO DE CANOTE DE SELIM OSTAND CD28

A – BAGAGEIRO UNIVERSAL PACK ‘N PEDAL THULE • B – BAGAGEIRO SEMI-UNIVERSAL RAIDER ZÉFAL • C – BAGAGEIRO DE CANOTE DE SELIM OSTAND CD28

BAGAGEIROS ESPECÍFICOS

São bagageiros que por um ou mais parâmetros não podem ser classificados como universais. Por exemplo, um bagageiro que é compatível com diferentes dimensões de rodas (26”, 27.5”, 28”, 700 ou 29”), porém, foi projetado para ser utilizado apenas com um único sistema de freios. Existem também alguns modelos de bagageiros que poderiam ser chamados de ultra-específicos. Foram feitos exclusivamente para um determinado tamanho de roda e tipo de freio.

A - BAGAGEIRO DX1 IMPORTADO / FREIO V-BRAKE ----- B - BAGAGEIRO IMPORTADO / FREIO V-BRAKE ----- C - BAGAGEIRO EM AÇO NACIONAL / FREIO V-BRAKE E RODAS 26"

A – BAGAGEIRO DX1 IMPORTADO / FREIO V-BRAKE • B – BAGAGEIRO IMPORTADO / FREIO V-BRAKE • C – BAGAGEIRO EM AÇO NACIONAL / FREIO V-BRAKE E RODAS 26″

DICA:  Bagageiros feitos para bicicletas com sistema de freio a disco são também compatíveis com freios v-brake, mas não vice-versa. Os bagageiros para bicicletas com freio v-brake só serão compatíveis com freios a disco se o quadro da bicicleta possuir furações que não criem conflitos entre as hastes do bagageiro e a pinça do freio a disco.

Há um padrão de pinças no mercado chamado de flat-mount que teoricamente exclui esta incompatibilidade com bagageiros para v-brake. Porém, o sistema ainda requer quadros específicos (geralmente sem furações para bagageiros) e o preço ainda é um pouco elevado.


POSIÇÃO

Há duas posições diferentes em que um bagageiro pode ser instalado na bicicleta; dianteira e traseira.

BAGAGEIROS DIANTEIROS E TRASEIROS

Os nomes são bastante sugestivos. O bagageiro dianteiro é instalado na parte frontal da bicicleta, geralmente fixado no garfo ou suspensão. Já o bagageiro traseiro segue na parte de trás da bicicleta.

Mas qual seria a necessidade de se ter um bagageiro dianteiro?

Bicicleta com Bagageiros Instalados

Exemplo de bicicleta com bagageiros dianteiro e traseiro

Para quem tem um projeto de realizar uma viagem muita longa ou mesmo curta de maneira autossustentável (acampando e cozinhando a própria comida), o bagageiro dianteiro pode trazer muitos benefícios. A começar pela melhor distribuição de peso na bicicleta. Quando se coloca toda a bagagem de uma viagem sobre o bagageiro traseiro nós estamos aumentando a probabilidade de se ter um pneu furado ou um raio partido. Também, o excesso de peso sobre o bagageiro pode forçar demasiadamente a sua estrutura, o que pode resultar na sua quebra.  Além disso, a combinação de bagageiros traz melhorias significativas para o equilíbrio da bicicleta.

Portanto, deve-se considerar a instalação de um bagageiro dianteiro na bicicleta quando a carga suportada pelo bagageiro traseiro estiver próxima ao limite máximo indicado pelo fabricante.

ATENTOS: Bagageiros dianteiros também seguem a mesma classificação dos bagageiros traseiros em relação a compatibilidade (universais e específicos).


MATERIAL

ALUMÍNIO, AÇO CARBONO, AÇO INOXIDÁVEL, AÇO CROMO-MOLIBDÊNIO (CROMOLY) OU TITÂNIO.

Bagageiro da Tubus Titânio

Bagageiro traseiro da marca Tubus feito em titânio | Preço médio: 300 dólares

Há muitas opções de bagageiros disponíveis no mercado. Com exceção de alguns fabricantes que utilizam peças plásticas de alta resistência na produção de seus equipamentos, a grande maioria dos bagageiros são fabricados puramente em metal. Alguns são bens populares como os produzidos em alumínio e outros mais raros que seria o caso dos bagageiros feitos em titânio. Há muitas discussões sobre o assunto, principalmente, em se tratando da resistência de cada material. Mas será que podemos reduzir a escolha de um bagageiro levando em conta apenas o metal utilizado na sua fabricação? Concordamos que não ou estaríamos excluindo a importância de engenheiros na elaboração de projetos.
Nem sempre o custo de um produto está ligado a sua durabilidade. Um bagageiro feito em titânio, por exemplo, pode custar até 20 vezes mais que um bagageiro similar produzido em alumínio e, ainda assim, apresentar problemas. As condições de soldagem, geometria da estrutura, tratamento térmico dos metais, armazenagem e transporte são parâmetros que influenciam significativamente na qualidade final do produto. No caso do titânio em específico o seu custo elevado pode ser também justificado pelo complexo processo que envolve a extração deste material na natureza.  Já o alumínio é um dos metais mais abundantes que temos na Terra e um dos mais fáceis de ser usinado. Gasta-se menos energia para produzir tubos, cortar, fundir e até mesmo soldar.  Em situação similar podemos citar o aço inoxidável que não tem um custo tão elevado quanto o titânio, porém, há uma diferença expressiva de preço em relação ao alumínio.

Muita gente acredita e afirma que o alumínio é um material fraco e frágil. Isso não é verdade. Vejamos os aviões que são feitos com este metal e suportam cargas intensas e ciclos de trabalhos altíssimos. O que se pode dizer em relação ao alumínio comparado aos outros materiais é que em termos de engenharia o primeiro não possui o chamado limite de resistência à fadiga.  Todo material está sujeito a sofrer danos estruturais quando submetidos a tensões cíclicas por um determinado período de tempo. Porém, teoricamente, alguns materiais tem a capacidade de trabalharem com ciclos infinitos de tensão sem gerar danos as suas estruturas. Claro que esta tensão tem um limite e acima dela o material passa a se comportar como qualquer outro, ou seja, estará sujeito a fadigas.

Fratura em bagageiro feito em aço inoxidável da marca Tubus

Confuso, não? Trazendo para o contexto do artigo seria como se estivéssemos dizendo que um bagageiro de alumínio, inevitavelmente, um dia irá se quebrar.  Já o bagageiro de aço, se o peso colocado sobre ele não for maior que seu limite à fadiga, teoricamente ele nunca se quebrará por excesso de carregamentos cíclicos.  Lembrando que estamos falando de uma situação bem hipotética com bagageiros estruturalmente idênticos e produzidos em condições ideais. Um bagageiro de aço mal projetado pode quebrar numa viagem curta de fim de semana enquanto um bom bagageiro de alumínio pode chegar ao Alasca intacto e ainda estar pronto para rodar mais milhares de quilômetros. O fato do alumínio não ter um limite resistência à fadiga  não quer dizer que ele vai se quebrar durante uma cicloviagem. Geralmente, o número de ciclos que uma estrutura bem projetada em alumínio suporta é tão alto, que talvez você não esteja mais vivo para vê-lo quebrar.

Portanto, mais importante do que se preocupar com o metal utilizado na fabricação de um bagageiro é utilizá-lo de maneira correta. Bagageiros, frequentemente, são quebrados por uso indevido. Há uma série erros que podem reduzir substancialmente a vida útil deste equipamento. Os mais comuns podemos dizer que seriam:

    • Bagagens com peso acima do limite recomendado pelo fabricante;
    • Má distribuição de peso dentro e fora dos alforjes;
    • Parafusos mal instalados (frouxos ou apertados demais);
  • Inclinação incorreta dos bagageiros (“empinado” ou com o “bico” caído)

Bons bagageiros quando bem instalados e respeitados as recomendações dos fabricantes duram uma vida toda. A seguir montamos um esquema para ajudá-lo a encontrar o bagageiro certo para sua bicicleta e seu tipo de expedição.

Escolha de Bagageiros - Esquema


DICAS E CUIDADOS PARA EVITAR QUE SEU BAGAGEIRO SE QUEBRE

1) DISTRIBUIÇÃO CORRETA DE PESO

Brinquedo Boneco João BoboDistribuir corretamente o peso da bagagem traz uma série de benefícios não só para a estrutura do bagageiro, mas também para o equilíbrio da bicicleta. Isso acontece porque ao concentramos o peso das bagagens próximo ao chão estamos rebaixando também o seu centro de gravidade. Quanto mais baixo ele estiver, mais fácil será para pilotar a bicicleta. Um exemplo bem legal para se entender esta relação física seria o famoso boneco que popularmente conhecemos por João Bobo. Por mais que a gente tente derrubá-lo, o boneco sempre retorna a sua posição ereta. Se olharmos com mais atenção a estrutura deste brinquedo vamos perceber que o seu peso está praticamente todo concentrado na base.
No caso de preservar a estrutura do bagageiro, quando se concentra o peso da bagagem próximo ao eixo da roda, ou seja, colocando o que é mais pesado no fundo do alforje, estamos reduzindo a amplitude de seu deslocamento lateral. Funciona assim. Nós não percebemos, mas quando estamos pedalando com cargas em cima do bagageiro, o tempo todo ele está se movimentando para um lado e para o outro.  Quando o peso se concentra na parte superior, a amplitude do movimento deste bagageiro é muito maior. Isso aumenta também o estresse em sua estrutura ampliando a probabilidade dele vir a se quebrar. Além disso, quando concentramos a bagagem mais pesada no fundo do alforje estamos também aproveitando a estrutura do quadro da bicicleta para impedir que a força gerada lateralmente pelos alforjes se aplique somente no bagageiro. Outra dica importante é distribuir igualitariamente o peso das bagagens entre o lado direito e o esquerdo dos alforjes.

Abaixo segue algumas simulações comparando a distribuição de peso dentro dos alforjes e sua relação com a movimentação da estrutura do bagageiro.

Influencia Alforje X Bagageiro

2) PARAFUSOS, ARRUELAS DE PRESSÃO E PORCAS AUTOTRAVANTES

É comum pensarmos que um parafuso está seguro quando ele esta muito bem apertado. Isso pode ser uma boa armadilha. Parafusos apertadíssimos podem ser tão problemáticos quanto parafusos frouxos. Todo parafuso tem sua tabela de torque que indica a força máxima e ideal que deve ser aplicada na peça durante seu parafusamento. Existe uma ferramenta chamada torquímetro que nos mostra exatamente qual é a força que estamos aplicando em um parafuso. Porém, o torquímetro é uma ferramenta profissional de custo bastante elevado. O melhor que temos a fazer nesta situação é usar o bom senso. Não muito apertado e nem frouxo demais.

ARRUELAS DE PRESSÃO

Arruela de PressãoQuando estamos parafusando algo que não requer uma porca na outra extremidade o uso de uma arruela de pressão pode ser muito útil. Este tipo de arruela cumpre o papel de não deixar que um parafuso se afrouxe.  Todo parafuso depois de um certo tempo de uso acaba perdendo um pouco da sua pressão.  Isso geralmente acontece porque a superfície na qual ele está em contato acaba se deformando. Embora seja algo milimétrico, esta deformação é capaz de gerar uma pequena lacuna entre a cabeça do parafuso e a parede da estrutura em que ele se encontra parafusado. Esta lacuna é suficiente para deixar o parafuso “bambo”.  A arruela de pressão entra para cumprir a função de criar um elo moldável dentro deste espaço vazio.

PORCAS AUTOTRAVANTES

Porca AutotravanteOutra pecinha muito útil para parafusos que utilizam porcas na extremidade são as porcas autotravantes que fazem exatamente o que seu nome sugere, ou seja, trava a porca evitando que ela se afrouxe. É uma porca comum como outras que se diferencia por ter dentro de sua estrutura um anel de nylon. Quando o parafuso passa por este anel surge uma nova rosca. Esta rosca tem a função de criar um descompasso com a rosca original da porca. Assim surge o travamento. Vale a pena gastar alguns centavos a mais por esta porca. Hoje em dia é super fácil encontrá-la em casas de ferragens, mas se por acaso você não tiver acesso a uma porca autotravante, você pode criar uma trava no parafuso simplesmente adicionando uma outra porca comum sobre a porca já instalada.

PARAFUSO INOX OU AÇO CARBONO

Parafusos Allen InoxTanto faz. Se a sua preocupação em relação ao parafuso estiver relacionado a sua dureza, então fique com aquele parafuso pretinho feito em aço carbono que tem impresso na sua cabeça o número 12.9. Este número é a classe de resistência do material. Vulgarmente podemos dizer que quanto menor for este número, mais maleável será o parafuso.  Os parafusos em aço carbono com a classe 12.9 são comuns e possivelmente é o que você irá encontrar em no mercado. Agora, se a sua preocupação está relacionada ao enferrujamento da peça, então o parafuso inoxidável pode ser uma ótima opção. Parafusos em bagageiros não quebram naturalmente com facilidade. Lembra da explicação sobre limite à fadiga dos materiais? Pois bem, se você apertar demais um parafuso ele pode se quebrar precocemente. Se deixá-lo frouxo ele pode fazer o papel de uma alavanca e a força do bagageiro aplicada sobre ele acaba rompendo sua estrutura.

3) BAGAGEIRO DIANTEIRO

Respeite sempre o limite de carga máxima suportada por cada bagageiro. Muita gente atropela esta informação e acaba tendo uma dor de cabeça tremenda quando se vê parado no meio de uma viagem porque o bagageiro quebrou. Se você perceber que a sua bagagem está próxima ao limite máximo de carga suportado pelo bagageiro traseiro, providencie a instalação de um bagageiro na dianteira de sua bicicleta. Um projeto de cicloviagem planejado por meses não merece se transformar em um pesadelo por um descuido previsível.

Bagageiros Dianteiros

Alguns modelos de bagageiros dianteiros disponíveis no mercado.

4) EVITE BURACOS

Esta é uma dica bastante óbvia e simples. Sempre que possível evite passar sobre buracos ou terrenos muito acidentados. Uma bicicleta trepidando é ruim para todo mundo.

5) MANUTENÇÃO PREVENTIVA

Sempre que rodar algumas centenas de quilômetros verifique se os parafusos e a estrutura do bagageiro estejam corretos. Algumas vezes nós acostumamos tanto com a viagem que parece que nada mais pode dar errado ou se quebrar. Só o pneu, este sim é uma assombração constante com seus furos.

6) INCLINAÇÃO DO BAGAGEIRO     

Tente instalar o seu bagageiro de maneira que a sua armação superior fique paralela ao chão. Nada de bagageiros “empinados” ou com o “bico caído”.


ADAPTAÇÕES E IMPROVISAÇÕES

De repente você quer colocar um bagageiro com um preço mais em conta na sua bicicleta e descobre que ela não tem nenhuma furação apropriada pra isso. E agora, o que fazer? Há soluções, algumas simples e outras que podem ser tão complexas que acaba valendo a pena investir em um bagageiro universal. Vamos ao primeiro e mais comum de todos os casos.

QUADRO SOMENTE COM FURAÇÃO PARA BAGAGEIRO PRÓXIMO AO EIXO TRASEIRO DA RODA 

Este é um caso  bem simples de se resolver. Na verdade, as possibilidades são quase infinitas. Vamos as duas mais comuns.

ADAPTADORES PRONTOS


Abraçadeira de Selim com FuraçãoAbraçadeira de Selim com FuraçãoForam feitos exclusivamente para resolver este problema. O mais comum e universal é a utilização de abraçadeiras de selim com furação para bagageiro. No Brasil nós temos no mercado o modelo MC-76 da marca Tranz-X. Esta abraçadeira substitui a original de sua bicicleta. Por ser parafusada e não presa por blocagem de pressão ela acaba inibindo um pouco o roubo de selins.

ABRAÇADEIRAS EMBORRACHADAS TIPO P

Abraçadeira tipo PAbraçadeira tipo PCumprem muito bem o papel de adaptação. Não são muito comuns de se encontrar, mas podem ser confeccionadas utilizando abraçadeiras comuns de encanamento e um pedaço de borracha como câmara de ar ou pneu descartado. A função da borracha é impedir que a abraçadeira se deslize além de proteger a pintura do quadro.

QUADRO SOMENTE COM FURAÇÃO PARA BAGAGEIRO PRÓXIMO AO CANOTE DE SELIM

Adaptador Furação TraseiraAdaptador Bagageiro TraseiroA melhor saída seria optar por um bagageiro que se encaixa na bicicleta através da blocagem traseira da roda. Para fixar as hastes superiores você poderia utilizar uma das opções mencionadas no item anterior.  Existe um adaptador no mercado internacional capaz de permitir que as hastes inferiores de um bagageiro traseiro sejam instaladas em um quadro sem furação. Apesar de ser uma ótima solução, este adaptador é caro e não é compatível com qualquer modelo de bagageiro. Seria necessário criar uma outra adaptação sobre ele, o que pode acabar transformando uma solução em dor de cabeça.


CONSIDERAÇÕES

Em algum canto, em algum lugar há um bagageiro apropriado para sua bicicleta. A única coisa que você precisa fazer é identificá-lo. Quando não há uma opção pronta de imediato, criar adaptações pode ser uma saída bem prática e rápida. Ao instalar um bagageiro em sua bicicleta esteja atento as recomendações dos fabricantes e as dicas que fornecemos neste manual. Se for levar muita bagagem, não abra mão de um bagageiro dianteiro. Se tudo estiver muito bem colocado e sem exageros, você terá uma coisa a menos para se preocupar na viagem. Então, decidido o bagageiro, vamos aos alforjes, mas isso é assunto para o próximo manual.


*  Este artigo foi elaborado com a colaboração do amigo Gustavo Miranda, engenheiro mecânico na indústria aeronáutica.


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novembro 29, 2016 29 comentários
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