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Manual dos Alforjes para Bicicleta

escrito por Eduardo Lemos julho 19, 2017

Você já deve ter lido aqui no Aventuraria o Manual dos Bagageiros para Bicicleta – se não leu, clique aqui – e ganhou confiança para escolher um bom bagageiro para a sua expedição. Aliás, talvez não seja somente um bagageiro, mas dois. Você descobriu que, além do bagageiro traseiro, você também irá precisar de um adicional para dianteira da sua bici. Tudo pronto, ou quase. Entramos para a segunda parte desta jornada maluca de tentar encontrar a melhor combinação de equipamentos para fazer uma cicloviagem tranquila. Desta vez vamos tocar num assunto que também deixa muitos ciclistas confusos quando decidem pegar a estrada pela primeira vez. Apresentamos aqui o Manual dos Alforjes para BicicletaDividimos este Manual em 4 tópicos importantes.

1. MATERIAIS
Tecidos e zíperes utilizados na confecção de alforjes.

2. CAPACIDADE VOLUMÉTRICA
Como é calculado o volume de um alforje ou mochila.

3. SISTEMAS DE ENCAIXE
Como os alforjes são fixados nos bagageiros e quais os modelos disponíveis no mercado.

4. 
ESCOLHENDO O ALFORJE CORRETO PARA SUA EXPEDIÇÃO
Algumas dicas para te ajudar a encontrar uma boa combinação de equipamentos para sua cicloviagem.

Pois bem, chega de apresentações e vamos ao que interessa.


1. MATERIAIS

1.1 – TECIDOS

Quando vamos comprar um alforje pela primeira vez é muito possível que tenhamos dúvidas em relação ao tecido usado na sua fabricação. Talvez não seja uma dúvida técnica, pode ser algo mais genérico relacionado a sua capacidade de ser impermeável ou não. As variações de modelos e a quantidade de marcas disponíveis no mercado são bastante, porém os tecidos usados na confecção de alforjes são bem restritos. De forma genérica e ampla podemos dizer que todos os alforjes para bicicleta são construídos a partir de tecidos de nylon ou os chamados vinil (lona). Claro que temos algumas exceções como alforjes feitos em poliéster ou jeans, mas são raros e portanto só vale a pena mencioná-los a propósito de curiosidade. Quando falamos em nylon nós estamos nos referindo a malha base da confecção de todos alforjes, até mesmo os modelos em vinil. Neste grupo incluímos também uma das marcas mais famosas que temos no mundo têxtil, a Cordura®. O que vamos entender um pouco melhor durante a leitura deste manual é que existem semelhanças entre todos estes tecidos, inclusive eles podem ser combinados entre si. Vamos ver então como isso funciona na prática.

1.2 – NYLON

O nylon, segundo o dicionário,  é um  nome genérico para a família das poliamidas. Foi a primeira fibra têxtil sintética produzida pelo homem. Desde então tem sido largamente aplicada na indústria de tecidos, sendo base para a construção dos mais diversos tipos de equipamentos como mochilas, bolsas, malas, vestuário, calçados e até para-quedas. Em alforjes, o nylon comum é facilmente encontrado em produtos provenientes da China, ou em equipamentos produzidos por empresas que buscam reduzir seus custos. Entende-se por nylon comum todas poliamidas simples que não possuem direitos reservados como acontece com o nylon 6.6, que é patente da empresa DuPont e tem seu uso e marca registrada por acordo com outra empresa têxtil chamada Invista. Neste caso o nylon 6.6 e seus tecidos passam a receber o nome de Cordura®. É sobre ele que vamos falar um pouquinho agora.

1.3 – CORDURA®

Selo de Identificação Cordura®

Se você é daquele perfil de aventureiro fuçado que gosta de investigar os detalhes técnicos de um equipamento antes de comprá-lo, provavelmente você já deve ter ouvido falar nos chamados tecidos Cordura®. Este tecido é famoso e não é à toa. Registrado pela empresa DuPont por volta da década de 30, a marca Cordura® inicialmente se referia a um tecido criado a partir de uma seda artificial conhecida por raiom. Anos mais tarde e depois de ter sido utilizada pelo exército americano durante Segunda Guerra Mundial no processo de construção de pneus para seus veículos, a DuPont transferiu a marca Cordura® para os seus tecidos fabricados em nylon. Hoje, com o avanço da tecnologia e com o compartilhamento de seus direitos com a empresa Invista, a marca Cordura® foi transferida novamente, desta vez vinculada ao nylon 6.6. O nylon 6.6 produzido Invista tem altos índices de ligações de hidrogênio, ponto de fusão e taxas de cristalização. Estas propriedades químicas atribuem ao tecido Cordura® características únicas como forte resistência a abrasão, desgaste natural e calor. Hoje os tecidos Cordura® possuem uma variação extensa de modelos com aplicações nos mais diversos setores da indústria, indo de airbag para carros a barracas de acampamento.  Diante das incertezas de procedência dos tecidos feitos em nylon comum e sabendo do envolvimento em pesquisas e tradição histórica da empresa Invista, vale a pena optar por equipamentos que utilizam o Cordura® em suas confecções. Abaixo segue um teste de abrasões feito pelo método Wyzembeek comparando alguns tecidos com o Cordura®.

Teste abrasivo realizado pela fricção cíclica de lixa de papel sobre o tecido. Fonte: blackbeardutygear.com

1.4 – VINIL (LONA)

Processo de Laminação do Tecido Nylon

O vinil – apelido para policloreto de vinila (PVC) –  não é utilizado na confecção de alforjes na forma de fios como acontece com o nylon, portanto, ele entra naquela combinação de materiais que citamos para se formar um novo tecido. Visualmente ele é bem simples de ser identificado por conta da sua espessura e aparência plástica destacante. Os tecidos em lona, como nós conhecemos e podemos encontrar em alforjes de marcas famosas como Saikoski, Thule e Ortlieb, são produzidos a partir da aplicação de camadas de PVC ou PU (Poliuretano) sobre tecidos de nylon (também pode ser aplicado em poliéster ou algodão). Este processo é conhecido por laminação e se resume na aplicação de camadas de PVC ou PU internamente e externamente ao tecido base. A técnica é essencial para a impermeabilização de um tecido. Malhas em nylon ou poliéster em sua forma natural não são capazes impedir que líquidos atravessem suas paredes, mesmo sendo elementos sintéticos. Se olharmos um tecido em nylon bem de perto ou com auxílio de uma lupa vamos ver que ele é formado por milhares de poros. É por esses buraquinhos que a água atravessa a malha. O PVC entra nessa jogada justamente para fechar esses poros. Agora que você sabe que a lona é criada através de um processo de laminação sobre um tecido base, fica claro entender que é possível termos lonas construídas em Cordura®, embora não seja algo de extrema significância neste caso, já que o Cordura® vai ficar escondidinho neste sanduíche de PVC.  Antes de seguir para o próximo capítulo (capacidade volumétrica), ainda precisamos falar sobre aquele detalhezinho que está presente em quase todas as descrições técnicas de mochilas, barracas, bolsas, alforjes e etc; a bendita letrinha “D” que acompanha as informações sobre um tecido.

1.5 – LETRA “D”

Você está olhando as descrições de um alforje ou uma bolsa de guidão quando de repente se depara com a seguinte informação: fabricado em tecido Cordura® 1000D. Que cargas d’água seria esta numeração? E qual é o significado da letra “D” no final?
Esta é fácil, mas podemos complicar, o que definitivamente não iremos fazer. A letra D que acompanha os números em tecidos vem da palavra em inglês denier e não tem nenhuma relação com moeda medieval francesa criada durante o reinado de Carlos Magno. Denier é uma unidade de medida criada pela indústria têxtil que expressa o peso em gramas de um fio, cujo comprimento linear é de 9000 mil metros. Porém, na prática, a única coisa que você precisa saber é que quanto maior for o número que acompanha a letra D mais resistente e pesado será um tecido. Só isso, nada mais. Agora você já pode pegar a sua bici e sair por aí viajando. Só não se esqueça de explicar para os seus amigos o que é também a tecnologia Rip Stop. Não falamos sobre isso? Então vamos lá rapidinho.

1.6 – RIP STOP

Tecido Antirrasgo (Ripstop)

É uma técnica de tecelagem conhecida também por antirrasgo. É bem fácil de identificá-la e pode ser feita ao olho nu mesmo. Sabe aquelas mochilas que você olha e parece que o tecido é formado por milhares de desenhos idênticos em formas de diamantes ou quadradinhos? Então, este seria um tecido antirrasgo. O funcionamento da técnica também é simples. Se você faz um furo dentro de um desses quadradinhos ele não se propagará. Isso acontece porque ele está cercado por costuras geométricas. Se acidentalmente um furo extrapola um destes cercados, inevitavelmente, ele será bloqueado pelo cercado vizinho. Esta é uma técnica bastante eficiente e tem sido aplicada largamente na indústria de bolsas e vestuário. Ufa, agora acabou. Acho que falamos o que tinha que ser dito sobre tecidos. Vamos entender agora um pouco mais sobre a capacidade volumétrica de um alforje, mochila ou qualquer outro tipo de bagagem. Ah, mentira, não acabou ainda não. Faltou darmos uma passadinha ligeira no assunto zíperes YKK®.

1.7 – ZÍPERES YKK®

Zíper YKK®

Você já deve ter ouvido falar sobre este tal de zíper YKK na descrição de algum alforje ou mochila. YKK® é marca registrada do grupo japonês de mesmo nome (YKK), considerado o maior fabricante de zíperes do mundo. A empresa é tradicionalíssima e foi fundada a mais de 70 anos. A qualidade de seus zíperes é expressivamente visível, principalmente, diante das toneladas de zíperes ching-lings que existem por aí. Portanto, se for adquirir um alforje ou mochila dê preferência às marcas que utilizam zíperes YKK® em suas confecções. É um item de custo baixo que faz muita diferença.


2. CAPACIDADE VOLUMÉTRICA

Falando em capacidade volumétrica nós encontramos também uma porção de dúvidas. A primeira e mais comum está relacionada a escolha correta do volume de um alforje para uma expedição. Na sequência vem o questionamento da real capacidade volumétrica atribuída por cada fabricante de alforje. Ambas as dúvidas são bastante pertinentes e merecem uma atenção especial.

2.1 – Como calcular o volume de um alforje?

Este cálculo é bastante simples de se fazer, embora não seja o mais preciso por conta da geometria de um alforje. Utilizando a escala em centímetros como referência, deve-se multiplicar o comprimento de um alforje por sua largura e altura. O resultado será apresentado em centímetros cúbicos (cm³). Para descobrir a litragem final é só dividirmos o número resultante da multiplicação das dimensões do alforje por 1000.

FÓRMULA
Litragem do alforje = (comprimento x largura x altura cm) / 1000

EXEMPLO
Alforje XY
Comprimento:  30cm
Largura: 20cm
Altura: 40cm
Litragem = (30cm x 20cm x 40cm) / 1000 = 24000cm³ / 1000 = 24 litros

2.2 –  Por quê as minhas medidas da dimensão de um alforje não condizem com a fornecida pelo fabricante?

Esta é uma boa pergunta e também simples de responder. Vários são os fatores que podem nos levar a obter medidas diferentes de alforje. A precisão da fita métrica utilizada, os pontos de referência, curvas de canto e preenchimento são alguns dos parâmetros que podem nos dar medidas diferentes para um mesmo equipamento. Os bons fabricantes de alforjes utilizam uma das técnicas que talvez seja a mais eficiente de todas; o enchimento por água. A água, no seu estado líquido, é capaz de preencher todas as áreas internas de um alforje. Feito isso, basta calcular quantos litros foram utilizados no experimento. Esta técnica talvez seja uma das mais utilizadas entre os fabricantes. No Brasil sabemos que as marcas Arara Una e Alpamayo fazem os seus cálculos desta maneira.


3. SISTEMAS DE ENCAIXES

O que você precisa saber sobre os sistemas de fixação é que, praticamente, existem apenas duas maneiras de se encaixar alforjes sobre bagageiros. Fixação por engate rápido ou fixação por sobreposição.

3.1 – Fixação por Engate Rápido

Fixação por Engate Rápido – Thule

Encontrado em uma boa parte dos alforjes existentes no mercado este sistema permite que os alforjes sejam fixados e retirados do bagageiro com muita facilidade e que também sejam utilizados individualmente. Os grandes fabricantes de alforjes no mundo costumam ter seus próprios sistemas de fixação. Praticamente todas as marcas utilizam peças plásticas de alta densidade com exceção da marca brasileira Saikoski, que usa uma combinação ultrarresistente de aço e fitas de nylon.  Sobre a compatibilidade com bagageiros podemos dizer que os sistemas de engate rápido são compatíveis com todos os modelos de bagageiro de marcas conceituadas no mercado. Para os demais bagageiros a dica é ficar de olho no diâmetro externo dos tubos utilizados na sua fabricação. Se os tubos tiverem o diâmetro externo entre 8mm a 10mm, certamente o sistema será compatível. Para tubos com diâmetro muito acima do padrão de 10mm não há muito o que fazer, mas se o diâmetro for, significativamente menor, você tem a opção de criar uma luva ao redor do tubo para aumentar suas dimensões. Há milhões de maneira de se fazer isso e uma delas seria enrolar fitas de borracha (câmara de ar usada) ao redor da estrutura do bagageiro e fazer o acabamento final com fita adesiva do tipo Silver Tape.

VANTAGENS: Fixação rápida no bagageiro e possibilidade de utilizar os alforjes individualmente (útil para uso urbano)
DESVANTAGENS: O plástico está suscetível ao processo de ressecamento ao longo do tempo, o que pode resultar em sua quebra. O processo de substituição dessas peças não costuma ser barato se estiver fora da garantia e pode ser demorado de acordo com a região que você estiver viajando. Poucas possibilidades de adaptação.
* O alforje de 32L da marca Arara Una pode ser utilizado individualmente mesmo não sendo do tipo engate rápido.
** Alforjes feito em Vinil não são transpiráveis, o que pode gerar a condensação de água em seu interior.

3.2 – Fixação por Sobreposição

Fixação por Sobreposição – Alto Estilo

Este é um dos sistemas de fixação de alforjes mais antigos e sua possível origem vem do transporte de carga sobre animais. Foi por muito tempo utilizado no Brasil por tropeiros e ainda hoje é comum encontrar estes alforjes em áreas rurais. O sistema em si, ao ser levado para bicicleta, não sofreu muitas modificações, apenas as bolsas e dimensões foram alteradas para se adequar a nova modalidade. É um sistema confiável, ultrarresistente (principalmente quando feito em tecido Cordura®), prático e de fácil manutenção. O funcionamento é simples; duas bolsas unidas na parte superior por uma fita larga que será acomodada sobre o bagageiro.

VANTAGENS: Resistente em qualquer tipo de terreno; reparos podem ser feitos por você mesmo com o auxilio de uma agulha, linha e tecido; custo reduzido do equipamento por não depender de usinagens ou ter patentes vinculadas.
DESVANTAGENS: Alforjes não podem ser utilizados separadamente (exceção do modelo 32L – Arara Una).


4. ESCOLHENDO O ALFORJE CORRETO PARA SUA EXPEDIÇÃO

Vamos agora descobrir como transformar as informações técnicas apresentadas anteriormente em conteúdo prático. 

4.1 – Alforje impermeável ou não?

Saco Estanque – Sea To Summit

Se o alforje não for impermeável, não se preocupe, existem muitas soluções práticas (profissionais ou improvisadas) para evitar que suas coisas fiquem molhadas em dias de chuva. Um alforje 100% impermeável tem o benefício de já vir pronto para não se molhar, porém isso não significa que um alforje em tecido transpirável seja ineficiente nesse quesito. Uma das soluções para se blindar um alforje e evitar que se molhe por dentro seria a utilização dos chamados sacos estanque . Saco estanque, caso você ainda não tenha ouvido falar, é um saco hermético feito em tecido impermeabilizado ou plástico que não permite a passagem de água para o seu interior. Você tem a opção de adquirir um saco estanque próprio de marcas renomadas como Sea to Summit ou improvisar um, caso seu orçamento esteja bem apertado. NADA DE UTILIZAR SACOS DE LIXO. Uma das melhores opções para se estancar objetos dentro de alforjes é utilizando sacos de ração para cachorro. Sim, é isso mesmo. Sacos de ração são feitos em plástico resistente, diferente do saco de lixo que se rasga com muita facilidade.

Portanto, ser ou não um alforje impermeável não deve ser um fator limitante. O que temos como informação universal é que geralmente alforjes impermeáveis possuem um custo mais elevado. Outra característica comum destes alforjes é que eles não costumam vir com bolsos externos, o que para algumas pessoas é um complemento bastante útil. MUITA ATENÇÃO ao comprar alforjes importados que se dizem ser WATERPROOF, principalmente, objetos vindo da China. À PROVA D’ÁGUA  é muito diferente de ser RESISTENTE A ÁGUA e talvez muitos fabricantes e lojistas se deixam enganar – propositalmente ou não – pelo conceito da palavra inglesa. Lembre-se que, para se obter um alforje 100% impermeável deve-se aplicar um tratamento de PVC ou PU sobre seu tecido e suas costuras necessitam estar seladas (ex. barracas). A Arara Una, um dos maiores fabricantes de alforjes para bicicleta no Brasil, tem um modelo de alforje impermeável feito em Cordura® que segue esta lógica do saco estanque. Além do tecido utilizado na confecção de seus alforjes possuírem um tratamento de PVC para repelir a água, este modelo específico da Arara Una já possui um saco estanque instalado dentro dele. Deste modo a escolha de um alforje deve se resumir a sua capacidade volumétrica, custoapreço estético e acesso a manutenção e garantia.

Uma última observação em relação a impermeabilidade dos alforjes se dá ao uso de capas de chuva. Capas de chuva para alforjes são eficientes para segurar chuvas moderadas e proteger seu equipamento da lama, mas NÃO SÃO CAPAZES de segurar chuvas mais tempestuosas. Não que a água irá transpor a capa, mas ela poderá entrar por áreas não protegidas do alforje como o seu encostado. Use a capa de chuva como complemento a um saco estanque.

4.2 – Qual a necessidade de se utilizar alforjes na dianteira da bicicleta e existe algum modelo próprio para isso?

Alforjes dianteiros são muito bem vindos, principalmente, em cicloviagens de longa duração. É nos alforjes da frente que nós, geralmente, estocamos as comidas, equipamentos de cozinha, temperos, material de limpeza e outras coisinhas úteis do dia a dia. O seu uso se faz necessário quando percebemos que a parte traseira da bicicleta está alcançando o seu limite máximo de peso, tanto em relação aos alforjes quanto ao bagageiro. O excesso de peso na traseira da bicicleta pode ser bem problemático em inúmeros fatores. A começar pelo aumento da força aplicada sobre a roda traseira da bicicleta, que pode aumentar as chances de se furar um pneu como também danificar os raios e até mesmo o aro. Além disso, o excesso de carga sobre um bagageiro pode levar a sua ruptura ou alterar o equilíbrio da bicicleta. Outra coisa é a aderência da roda dianteira. Muito peso atrás pode criar uma tendência de se empinar a bicicleta. Isso é muito ruim para subidas e perigoso em curvas. Então a regra é simples. Está achando que a traseira da sua bicicleta está ficando muito pesada? Opte por instalar um bagageiro e alforje na dianteira.

Em relação aos modelos de alforjes frontais para bicicleta, no geral não existe algo específico. O que se percebe com bastante clareza é que os alforjes de dianteira tem sempre uma capacidade volumétrica menor (algo menor ou próximo a 30 litros), e isso é proposital. Primeiro porque o excesso de peso frontal altera significativamente a dirigibilidade da bicicleta, e outra é que não há a necessidade de tanto espaço assim para uma cicloviagem. Uma regrinha genérica e bastante útil é aquela que define a proporção de cargas distribuídas entre os alforjes traseiros e dianteiros da bicicleta. A média seria colocar 60% do peso total na traseira e 40% na dianteira. Este é um bom começo, os ajustes finos nós vamos fazendo durante a viagem.

4.3 – Qual o tamanho do alforje que devo levar na minha viagem?

Diante de tantas variações disponíveis no mercado encontrar o modelo certo de alforje para sua cicloviagem pode se tornar uma tarefa um pouco estressante. São vários os fatores que devem ser levados em consideração nesta pesquisa e não há ninguém melhor para defini-los do que você mesmo. Inclui-se nesta lista de parâmetros informações como clima, duração de viagem, perfil da expedição (autossustentável ou assistida) e a maneira como você monta suas bagagens de viagem. Para facilitar um pouquinho a nossa vida, elaboramos um pequeno guia ilustrativo para te auxiliar a montar a sua própria configuração de alforjes.

***** Este roteiro foi baseado na montagem de alforjes por pessoas que procuram não transportar muitas coisas em viagens, mas não são radicalmente minimalistas e nem exageradas. Se você for do tipo minimalista, considere a menor das medidas fornecidas na tabela acima. Se for do perfil exagerado, opte pelas maiores medidas.

DICA DE COMPRA

Se você está fazendo uma cicloviagem de curta duração pela primeira vez e tem a intenção de se hospedar em pousadas, comer em restaurantes e ainda não tem certeza se fará outras expedições (difícil não fazer), uma boa opção seria investir em um alforje com capacidade em torno de 30L. Se futuramente você decidir fazer expedições longas e com muita bagagem este alforje pode ser transferido para a dianteira da bicicleta e só então você investe num alforje de capacidade maior para ser utilizado no bagageiro traseiro.

4.4 – Quais são as melhores marcas de alforjes encontradas no Brasil?

O cicloturismo ainda está tomando o seu lugar no Brasil, mas os fabricantes de alforjes e marcas internacionais já estão por aqui faz um bom tempo. O interessante é ver que, embora ainda não tenhamos uma tradição nesta modalidade, o mercado nacional de fabricação de alforjes é bem significativo. Hoje temos por aqui (Julho/2017) ao menos 7 fabricantes  de alforjes para cicloturismo (Alpamayo | Alto Estilo | Arara Una | Aresta | Curtlo | Saikoski | Northpak), sendo a Saikoski pioneira na produção de alforjes impermeáveis no Brasil. Além das marcas nacionais nós temos também outras 4 grandes marcas internacionais (Thule | Ortlieb | Deuter | Topeak). Todas elas, sejam brasileiras ou de origem estrangeira fabricam alforjes de altíssimo nível técnico e durabilidade. Todas as marcas nacionais utilizam Cordura® em seus alforjes e zíperes YKK®.

ALFORJES URBANOS

Neste manual estamos focando nos alforjes próprios para cicloturismo, mas não podemos deixar de citar outros dois grandes fabricantes brasileiros de alforjes do tipo urbano; Alforjaria e Movere.


ATENÇÃO
Tome muito cuidado ao comprar alforjes provenientes da China. Apesar de ter um custo bastante chamativo, a grande maioria dos alforjes fabricados por lá utilizam material de baixa qualidade, incluindo seus tecidos e zíperes. A nossa recomendação é que nunca se compre um alforje da China para fazer uma expedição de longa duração. O problema mais comum encontrado nestes alforjes é o desfiamento de seus tecidos no decorrer da viagem. Alforjes de marcas confiáveis não são caros se considerarmos que são produtos para durar uma vida toda.


Onde posso comprar alforjes e equipamentos para cicloturismo no Brasil?

Um ótimo lugar para se comprar alforjes e equipamentos especializados em cicloturismo é sem dúvidas a loja virtual,  Aventuraria.


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18 comentários

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Emerson Rodrigo Lacerda julho 19, 2017 em 3:34 pm

Um tutorial escrito com excelência.
Sensacional
Parabéns Eduardo Lemos.

Responder
Eduardo Lemos
Eduardo Lemos julho 19, 2017 em 3:53 pm

Emerson, muito obrigado pelo elogio. Fico feliz que o artigo tenha lhe agradado. Bons ventos pra ti!

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Daniel Fontoura julho 19, 2017 em 4:01 pm

Show de bola, Eduardo!!! Informações completas e de ótima qualidade, como era de se esperar de você. 🙂 O site Aventuraria está se tornando a melhor referência brasileira sobre equipamentos para cicloviagem. Massa demais!

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos julho 19, 2017 em 4:32 pm

Daniel, este elogio que você fez a mim e ao Aventuraria é de uma gratidão sem fim. Muiiiiiiiito obrigado!

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Walter Magalhães julho 19, 2017 em 9:40 pm

Parabéns pela publicação do material, Eduardo. Um abraço!

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos julho 20, 2017 em 12:20 pm

Obrigado, Walter! Um grande abraço pra você também!

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Jorge Cancella agosto 10, 2017 em 10:07 pm

Parabéns Eduardo! Ótimas dicas…valeu mesmo, amigo!

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos setembro 27, 2017 em 3:58 pm

Obrigado, Jorge!!! Fico feliz com seu comentário. Um grande abraço!

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Giancarlo Faria setembro 23, 2017 em 12:36 am

com certeza existem dezenas de tipos de alforges, o meu é um da MSX, é excelente e o custo beneficio foi interessante, já peguei 2 dias de chuva torrencial descendo pra Paratii, e foi ótimo…
Parabéns pelos posts, excelentes, achei a pouco tempo aqui e já fiquei fã…. Sucesso

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos setembro 27, 2017 em 4:00 pm

Fala Giancarlo! Nunca tive a oportunidade de usar os alforjes MSX, mas acredito que sejam bons mesmo. Não os citei na postagem porque foquei apenas nas marcas que existem representação oficial no Brasil. 🙂 Obrigado pelas palavras de elogio. Um grande abraço pra ti!

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Xamã setembro 23, 2017 em 11:44 pm

Hola,
Tanto este relato quanto dos bagageiros são perfeitos principalmente para quem está iniciando e é cercado de muita informação da internet e consequentemente, sobrecarregado de dúvidas. Abrazos.

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos setembro 27, 2017 em 4:01 pm

Oi Xamã! Muito obrigado por suas palavras de apoio. Fico feliz que os artigos tenham sido úteis para você. Um forte abraço e bons ventos!

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Letícia junho 13, 2018 em 7:42 pm

Adorei! Foi o primeiro roteiro de dicas bem detalhado que encontrei. Estarei fazendo minha primeira cicloviagem mês que vem. Essas dicas foram ótimas.

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos julho 26, 2018 em 1:23 am

Oi Letícia. Obrigado pelas palavras de carinho. Que bom ouvir que este roteiro foi útil pra ti. Bons ventos em suas jornadas.

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Leite janeiro 4, 2020 em 5:15 am

Sensacional.
Altamente explicado e coerente.
Março de 2020 vou fazer o Vale Europeu.
Obrigado pelas dicas Edu.
#leitebike

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos fevereiro 12, 2020 em 1:15 am

Fala Leite. Muito obrigado por seu elogio e por prestigiar a leitura do texto. Bons ventos pra você no Vale Europeu. Grande abraço!

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Gabriel Nascimento maio 26, 2020 em 2:02 pm

Caraca que texto perfeito!
Estou me organizando para confeccionar os meus próprios e teu tutorial foi uma luz!

Super gratidão!!!!

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Eduardo Lemos
Eduardo Lemos junho 24, 2020 em 1:28 pm

Fala Gabriel! Cara, muito obrigado por sua participação e por suas palavras de apoio. Mete bronca aí nesta sua confecção de alforje que vai ficar sensacional. Bons ventos! Um grande abraço, Eduardo Lemos.

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